
NAPERVILLE, Illinois, 13 de março (Reuters) – De acordo com sua própria agência de estatísticas, os suprimentos de milho do Brasil atingiram, há algumas semanas, os níveis mais baixos em pelo menos um quarto de século.
Mas o Departamento de Agricultura dos EUA não espera que um cenário como esse aconteça antes do início do ano que vem.
Então, qual é?
A história USDA versus Conab não é nova. A controvérsia surgiu no ano passado sobre as estimativas altamente variáveis das duas agências para as colheitas de soja e milho do Brasil.
Em uma escala mais ampla, a explicação é direta. O USDA e seu equivalente brasileiro, a Conab, apresentam diferenças em todo o balanço, abrangendo tanto a produção quanto a demanda. Isso significa que provavelmente não há uma resposta “certa”.
Mas com a previsão de que a oferta mundial de milho no final deste ano cairá para níveis próximos às mínimas de três décadas quando comparada à demanda, pode valer a pena analisar as tendências no Brasil.
REVISÃO VITAL
Antes de discutir previsões, é essencial entender os prazos relevantes. Para a Conab, o ano de comercialização de milho 2024-25 do Brasil termina em 31 de janeiro de 2026, enquanto o do USDA termina um mês depois.
Este ano de comercialização brasileiro de março-fevereiro se desenrola no balanço mundial de milho do USDA, que reflete um agregado de anos de comercialização locais. Portanto, as estimativas de estoque mundial de milho do USDA não são pontuais, mas abrangem um período de vários meses.
Isso é diferente de como o USDA lida com seu registro global de soja, onde o Brasil e a Argentina mudam o ano de comercialização para outubro-setembro.
PRODUÇÃO OPOSTA
O USDA manteve na terça-feira a safra brasileira de milho de 2024-25 em 126 milhões de toneladas, embora tenha reduzido a colheita de 2023-24 em 3 milhões, para 119 milhões de toneladas.
Na quinta-feira, a Conab aumentou a safra 2024-25 em menos de um milhão de toneladas, para 122,76 milhões, e deixou o ano passado inalterado em 115,7 milhões.
Essas mudanças aproximaram as agências. Combinadas em ambos os anos-safra, o USDA agora tem uma estimativa de produção de milho 6,5 milhões de toneladas maior que a Conab, abaixo dos 10,3 milhões do mês passado.
Os números nunca precisam convergir, no entanto, porque nos últimos quatro anos, os números de produção do USDA permanecem pelo menos 2,5% acima dos da Conab. O desvio para a safra 2022-23, que ambas as agências concordam que foi a maior do Brasil, ainda está em 3,9%.

EM NÚMEROS
A Conab diz que os suprimentos estão escassos agora, enquanto o USDA espera que eles continuem bastante escassos daqui a um ano.
Os dados da Conab mostram estoques brasileiros de milho em torno de 2 milhões de toneladas para 2023-24, que terminou há seis semanas. Tanto esse número quanto os estoques associados ao uso de 1,7% são os mais baixos na história da Conab desde 1999-00.

A agência brasileira vê uma recuperação até janeiro próximo para 5,5 milhões de toneladas e 4,6%. Isso se compara com as médias da década de cerca de 10,5 milhões de toneladas e 11%.
No final de fevereiro, o USDA acredita que os estoques de milho do Brasil totalizaram 7,5 milhões de toneladas, abaixo dos 10 milhões em 2022-23 e semelhante à média da década. Mas ele projeta que os estoques de 2024-25 cairão para uma baixa de 23 anos de pouco menos de 3 milhões de toneladas.

Isso corresponde a uma proporção de estoques para uso de 2,2%, o que seria uma baixa de 42 anos no banco de dados do USDA. A média recente de 10 anos é de 7,8%.
A mudança de um mês entre os anos de marketing das duas agências pode explicar parte das diferenças. O Brasil normalmente exporta não mais do que 4% do seu volume anual em fevereiro, o mês em questão, embora o consumo doméstico seja responsável por muito mais uso.
O USDA está mais otimista sobre as exportações de milho do Brasil do que a Conab. Em média, ao longo de 2023-24 e 2024-25, a agência dos EUA estima que o Brasil exportará cerca de um terço do que produz, acima da suposição da Conab, perto de 30%.
Exportações recentes não dão a aparência de oferta abundante, já que os embarques mensais brasileiros têm sido um pouco abaixo da média. O potencial futuro de exportação depende da nova safra semeada do Brasil, bem como da próxima colheita de milho nos Estados Unidos, o maior exportador.
Embora o momento seja um pouco diferente, as previsões de ambas as agências para suprimentos de milho brasileiro bem abaixo da média em algum momento do ano certamente destacam as preocupações recentes do mercado sobre a redução dos estoques, pressionando o desempenho das safras deste ano.
(As opiniões aqui expressas são do autor, um analista de mercado da Reuters)
Escrito por Karen Braun Edição por Matthew Lewis
Fonte:
Reuters